Nesta semana, a Comissão Europeia aprovou a aquisição da ITA Airways pela Lufthansa. Com isso, a Lufthansa passará a controlar 100% da companhia aérea nacional italiana, somando-a ao seu grupo que inclui a Austrian Airlines, SWISS e Brussels Airlines, entre outras. O acordo terá um impacto abrangente, afetando tanto a indústria de aviação italiana quanto as conexões internacionais com o país mediterrâneo.
O consultor de transportes Andrea Giuricin, que atua na Itália, comentou sobre a importância dessa aquisição e os benefícios que ela trará para o desenvolvimento da aviação no país. Ele acredita que essa medida é essencial para assegurar a expansão futura da aviação na Itália.
“Contar com um parceiro como a Lufthansa é essencial para estabelecer economias de escala, entre outros benefícios, e, assim, impulsionar o crescimento. Para a Itália, especialmente para o Aeroporto de Roma Fiumicino, a estratégia da Lufthansa é expandir os voos de longa distância para a América do Sul, América do Norte e África. Isso oferece à ITA Airways e à Itália a oportunidade de aumentar a conectividade direta no mercado intercontinental.”
A ITA Airways será essencial para completar um ponto estratégico importante no plano do Grupo Lufthansa.
A Lufthansa planeja estabelecer um hub significativo no Aeroporto de Fiumicino (FCO) em Roma, que é a base da ITA Airways. Em uma entrevista ao Corriere publicada esta semana, o CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, expôs suas intenções de redirecionar a estratégia do grupo para alcançar uma dimensão global.
Até agora, os mercados principais do Grupo Lufthansa são Europa, América do Norte e Ásia, com menor ênfase na África e América do Sul. A ITA Airways visa preencher essa lacuna. Spohr afirmou:
“Roma está localizada a 1.000 quilômetros ao sul de Frankfurt e 700 quilômetros abaixo do nosso hub mais meridional, que é Zurique. O Aeroporto de Fiumicino possui uma posição estratégica ideal para todas as conexões com o sul do mundo, especialmente com a América Latina e a África. Além disso, é uma excelente conexão para os Estados Unidos.”
Isso evidencia claramente o potencial da companhia aérea na estratégia do grupo. Em vez de ser apenas uma adição às redes existentes da organização, a ITA Airways se esforçará para oferecer conectividade adicional para áreas do mundo que não são tão bem atendidas pela rede do Grupo Lufthansa.
A ITA ampliou recentemente sua rede na América do Norte e, nesta semana, iniciou voos para Dakar, no Senegal. Além disso, a companhia anunciou recentemente a expansão de suas rotas de longa distância para Bangkok. Essas iniciativas refletem o crescente foco da companhia aérea na conectividade de longa distância, um fator que será crucial para seu sucesso diante da intensa competição no segmento de baixo custo.
Na América do Sul, a ITA tem operações limitadas a Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo. Giuricin comenta:
“Enxergo a América do Sul como uma oportunidade promissora para aumentar a conectividade, principalmente porque é um mercado dominado pela Iberia e tem um grande número de descendentes de italianos. Há muitas pessoas com origens italianas vivendo na Argentina, Brasil e outros países da região. Portanto, existe um grande potencial aí. Além disso, a África também apresenta oportunidades significativas, especialmente com a posição estratégica de Roma Fiumicino.”
Qual é a importância da América do Norte nesse contexto
A América do Norte é claramente importante para a estratégia de voos de longa distância da ITA. Giuricin disse ao Simple Flying que, nos Estados Unidos, há cerca de 16 milhões de pessoas que se identificam como tendo origens italianas. Embora 16 milhões representem apenas 5% da população, ainda é um mercado potencial significativo para a ITA.
Além disso, no Canadá, existe uma grande comunidade de italianos ou de pessoas com ascendência italiana. Esse mercado também pode ser interessante para a ITA, especialmente se houver novos aviões e produtos italianos.
O consultor acredita que, considerando os investimentos significativos na renovação da frota da ITA, tanto para voos de curta quanto de longa distância, o foco deve estar nos serviços de qualidade da companhia italiana. A ITA opera A330ceos, A330neos e Airbus A350s nas rotas intercontinentais.
Com a chegada de novos aviões, como os A330neos e os A350, os serviços de alta qualidade podem ser a chave para o sucesso da companhia aérea e ajudar a desenvolver ainda mais o mercado na América do Norte.
Crescimento Low Cost e o mercado intercontinental
Em um estudo conduzido por Giuricin, ele observa a redução gradual da participação de mercado da ITA (e da antecessora Alitalia) desde 1997, passando de 45% para apenas 9% em 2023. Vários fatores causaram essa mudança, especialmente o aumento das companhias aéreas de baixo custo.
No mercado doméstico, a Ryanair é a líder, com uma participação de mercado de quase 50% em 2023, enquanto a ITA tenta manter seus atuais 26%. A situação é ainda pior no mercado intercontinental, com uma participação de mercado inferior a 10% em 2023. A previsão de Giuricin para 2024 mostra uma participação de mercado entre 10% e 12% – um valor insignificante, considerando que a companhia aérea é a transportadora nacional.
A ITA se destaca de seus concorrentes na Europa, como Air France, KLM, Iberia e British Airways, onde o nível de participação de mercado em todos os setores é tipicamente muito maior. Para a Itália, o setor intercontinental é o mais competitivo.
Giuricin observa que é impossível encontrar uma situação semelhante em grandes países da Europa, devido ao fato de que a ITA tem uma rede relativamente pequena para voos intercontinentais, ao contrário da Air France – KLM ou IAG.
As concessões são razoáveis
A Comissão Europeia delineou uma série de concessões necessárias para que o acordo avançasse, as quais a Itália e a Lufthansa também concordaram.
No setor de curta distância, Bruxelas obrigou a companhia aérea resultante da fusão a ceder slots no aeroporto de Milão Linate para facilitar a entrada de um concorrente em rotas chave da Itália para a Europa Central. No setor intercontinental, as companhias precisarão fazer concessões com outras companhias aéreas para garantir que possam competir com a ITA em voos diretos ou com uma escala, particularmente para a América do Norte.
Giuricin acredita que as concessões no setor de curta distância são justas, dado o domínio significativo da companhia aérea resultante da fusão no aeroporto de Milão Linate e em rotas para certos hubs do Grupo LH na Europa, como Bruxelas, Munique e Frankfurt. No entanto, ele considera que os sacrifícios no setor intercontinental não fazem sentido.
Ele critica os remédios nas rotas de longa distância, pois acredita que, exceto por alguns casos muito específicos, em geral há muita competição, já que não há muitos voos diretos.
O Que Esperar do Futuro da ITA Airways NA LUFTHANSA
Espera-se que a entrada na Star Alliance e na joint venture transatlântica (A++) que o Grupo Lufthansa tem com a United e a Air Canada ocorra entre 2026 e 2027. Além disso, a Lufthansa pretende aumentar sua participação total na companhia aérea italiana para 90% no início de 2025.
A expansão no front intercontinental será essencial para sua estratégia, especialmente à medida que Frankfurt (FRA) e Munique (MUC) atingem sua capacidade máxima. Por outro lado, Roma-Fiumicino (FCO) tem potencial de crescimento.
Atualmente, não é fácil encontrar um aeroporto com espaço para crescer, especialmente entre os grandes hubs na Europa. Roma Fiumicino tem essa capacidade. Acredito que há a possibilidade de aumentar os voos intercontinentais com base em uma rede Hub & Spoke a partir de Roma Fiumicino.
Com informações da Simple Flying.
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